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Nude pra quem?

  • Foto do escritor: Bel Oliveira
    Bel Oliveira
  • 15 de abr. de 2020
  • 3 min de leitura

Atualizado: 5 de jun. de 2020



Nude. Não é da foto sem roupa que eu tô falando e sim da famosa “cor de pele” que no mercado publicitário e principalmente no imaginário popular (por causa das insistentes campanhas ao longo dos anos) significa BEGE até hoje. O bege se aproxima da pele branca, a pele que é considerada padrão no nosso país e que certamente não é a minha.


Talvez você esteja se perguntando porque tem uma foto da minha bunda aqui, e a resposta é que faz parte do contexto, confia em mim : ) Essa história começou há uns meses atrás, quando fui até uma loja comprar calçolas e tinha essa aí. Não pensei muito, o preço era bom, era um trio e levei. Quando usei pela primeira vez, percebi que essa era a única entre TODAS as roupas íntimas que eu tinha que se aproximava do meu tom de pele. A ÚNICA! Finalmente um nude pra chamar de meu, ainda que não estivesse 100% perfeito e casando com a minha pele nos mínimos detalhes! Me senti feliz por uns minutos e depois pensei em algo que sempre pairou pela minha cabeça: quantas outras coisas são “cor de pele” só pra uma pele? Quantas pessoas você conhece que clamam por aí que “nude é uma corzinha sei lá”, “cor de gente sem imaginação”, “jamais usaria a dois, que horror!”? Eu conheço várias e ~coincidentemente~ são brancas e/ou sem consciência racial pra perceber de qual problema estamos falando aqui.


Escolher é um privilégio. Ser visto como gente e numa sociedade capitalista isso é ser consequentemente visto como consumidor, ter todas as possibilidades disponíveis e minimamente pensadas pra você é um privilégio. Cê já usou curativo nude (em bege), né? Eu só cheguei a ver na internet um band-aid da minha cor. NA INTERNET! Pessoalmente não conheço (esse aí no meu dedo é photoshop). Cê não usa calcinha “cor de pele” porque acha que é brega? Pois eu ainda nem encontrei o meu tom pra usar, enjoar e dizer isso. E quando você era criança, pintou os desenhos na escola com o lápis “cor de pele”? Pra mim não tinha e quando eu decidia usar o marrom e/ou preto, era motivo de risinhos e chacota dos meus coleguinhas (criança pode ser cruel sim, somos moldados por uma sociedade desde que nascemos) e alguns professores - ainda que negros como eu - me olhavam com aquela cara que diz: tá doida? Na sessão de make, qual é o tom mais escuro da marca que você gosta? Abrange quem é diferente de você (especialmente peles retintas) com a mesma facilidade? E se não abranger, você segue comprando? Boicota? Reclama? Fala com a sua bolha sobre? Ou acha normal, afinal tem pra você e você nunca pensou nisso? E se pensou, acho que é exagero? Talvez por isso eu faça tão pouca questão de maquiagem...


São essas as perguntas que eu me faço sempre, desde antes da calcinha ali acima. Nude sequer é uma cor, é apenas um conceito. "Cor de pele" não pode ser apenas bege e eu que aceite porque é assim desde que o mundo é mundo. As decisões do racismo permeiam a nossa vida até nisso e nós nos calamos por tanto tempo que deu, né? Sei que quem é negro já sentiu essa sensação em diversas escalas da vida então o papo é pra você, pessoa branca: quando é que você vai botar a mão na consciência, rever esses privilégios aí e se colocar do nosso lado? Não é (somente) por uma calcinha, é por saber que uma sociedade NÃO nos exclui até nesses ~PEQUENOS~ detalhes (que de pequenos não tem nada, viu?)...


Tem vídeo no canal sobre essa conversa aqui, tá também no meu Instagram e tem conteúdo meu e de milhares de outros criadores pra que você reveja a ˜naturalidade˜ dessa questão, que nada mais é do que racismo mesmo. Agora reflita aí! #nude #belfie #racismo #cordepele #reflexão


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©2020 by bel que se quis.

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