E o racismo?
- Bel Oliveira
- 27 de jan. de 2018
- 2 min de leitura
Atualizado: 28 de fev. de 2019
Texto original publicado na minha página do Facebook, em 07/12/2017
Passei uns dias longe do facebook. Deletei a conta mesmo. Voltei ontem e enquanto voltava, ouvindo Formation (da Beyoncé), lembrei de uma história que nunca contei pra ninguém: eu me mudei pra Itália em outubro de 2016 (parece que eu tô aqui há 200 anos, mas faz pouco mais de um). Vim cheia de planos e esperando coisas boas e pessoas legais, como óbvio. Em dezembro de 2016 já não aguentava mais morar aqui.
Poderia citar 1001 motivos pelos quais eu tinha criado tamanha aversão ao lugar que escolhi pra viver mas o que mais me abalava era mesmo o racismo.
Eu sou negra, não tem como e nem tenho motivos pra negar. Ser negro é difícil em qualquer lugar, entretanto aqui foi o primeiro lugar onde pessoas me destrataram na minha cara por causa da cor da minha pele, sem nem fazer cerimônia.
Em janeiro deste ano (portanto 3 meses depois da minha mudança) fizemos uma festinha de aniversário pro meu namorado e eu tomei um porre daqueles, homérico! Ao som de Formation, da Beyoncé. Fiz as últimas pessoas presentes naquela reunião ouvirem a música até à exaustão, e eu reclamava de algo que nem eu e nem ninguém ali conseguia entender (tenho pelo menos 5 testemunhas, haha). Poderia ser só mais uma história de uma bebedeira como outra qualquer mas vocês já ouviram Formation? Assim, de verdade e com tradução? Eu não consigo ver o clipe sem chorar. Sério! Essa música me fez ver que eu fui descriminada por ser quem sou mas que não aconteceu (ou acontecerá) só comigo.
Aconteceu e talvez ainda aconteça com uma artista mundialmente conhecida como é a Beyoncé. Que eu devo me orgulhar da minha raça, do meu cabelo e do meu nariz. Que o problema jamais serei eu (ou você, pessoa negra), e sim quem nos julga e se acha melhor do que nós. Que tenho sim que ser duas vezes melhor que uma pessoa branca em qualquer coisa que eu faça porque a sociedade exige isso de mim, infelizmente; e existem duas opções de resposta ao fracasso e ao sucesso de uma pessoa negra: olha lá essa neguinha, sabia que isso não ia dar certo; essa neguinha é danada, sabia que ia dar certo. É sempre a cor da pele, entendeu?
Acima de tudo eu aprendi que cada um só dá aquilo que tem dentro de si, e eu não tenho ódio pra distribuir por aí. Vivo aqui, continuarei vivendo até terminar de estudar, e é isso.

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