O corpo que habito
- Bel Oliveira
- 2 de fev. de 2018
- 3 min de leitura
Atualizado: 28 de fev. de 2019
Texto originalmente publicado na minha página do Facebook, em 13/12/2017
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O corpo é uma questão. Ampla e complexa, diga-se de passagem.
Hoje, enquanto me vestia pra sair de casa (hajam camadas de roupa e paciência até o inverno acabar), tirei essa foto aí. Eu fui magra a maior parte da minha vida, pelo menos até os 28, 29 anos. Magra sem esforço, sem dieta, sem sofrimento. Comia o que queria mas nunca fui de grandes quantidades de coisa nenhuma. Doces, vez na vida outra na morte porque não sentia vontade.
Até que em 2014 eu mudei de país. Tem gente que nunca muda nem de caminho, vejam só, mas eu pensei: porque não?
Eu tive uma trombose venosa profunda em 2010 e foi um verdadeiro milagre que eu tenha escapado daquela situação sem sequelas, e escapando sem sequelas eu decidi que nunca mais deixaria as coisas importantes pra depois (o que dependesse só de mim, claro) porque eu não sabia se o depois ia chegar.
Mudei. Mala e cuia. Vida nova. Vou ser feliz, pensei.
Não fui. Era um relacionamento abusivo, e abuso não significa apenas agressão física (essa eu nunca passei, felizmente).Sofri muito. Chorei muito. Mudei por amor e com perspectivas de futuro mas as coisas deram errado. Normal, existe 50% de change das coisas darem errado mesmo.
Bóra seguir em frente e recomeçar? Vamos! Como? Sei lá, mas um jeito tem que ter!
“Todo mundo consegue”, eu ouvia. E dá-lhe comida. “Fulana encontrou um emprego depois de uma semana no exterior”. E dá-lhe comida. “Mas se separaram porque?”. E dá-lhe mais comida. Eu tinha medo de passar fome, embora nunca tenha acontecido, e por ter esse medo eu comia o tempo inteiro. Qualquer coisa, a qualquer hora e muito rápido. Quem me conhece sabe que eu sou uma lesma comendo.
Lembro de mudar pra Portugal e ter chegado lá sem conhecer ninguém, com uma quantidade ínfima de dinheiro no bolso e com mil coisas pra fazer porque a vida tinha que seguir e se ajeitar. Era inverno quando eu me mudei. Muitas vezes eu saía no escuro e voltava tarde da noite procurando trabalho ou só vagando pela cidade. Morria de medo de andar nas ruas escuras (que são seguras, mas eu não conhecia nada).
Achei uma casa. Pessoas realmente boas entraram no meu caminho. Conheci meu namorado. Amigos perto e longe me deram um suporte inestimável! Minha família sempre esteve ao meu lado, como em toda a minha vida.
Mas foi duro. Foi triste. Desenvolvi compulsão alimentar. Depressão. Os abalos psicológicos que sofri talvez nunca mais sumam. Talvez desapareçam amanhã.
Engordei 10kg.
Quando voltei ao Brasil a coisa que mais ouvi foi: nossa, mas você engordou!! Estou chocada!!
Pois é. É por isso que eu falo que o corpo é uma questão. Eu não engordei por descuido, por vontade, por não ligar. Eu estava sofrendo. Empatia é uma palavra que poucos conhecem porquê ainda somos melhores com a capa que com o conteúdo.
Eu engordei sim, mas depois dos 10kg a mais encontrei amor, compreensão, mudei de país de novo, aprendi 3 novos idiomas e tô indo pro quarto. Vez ou outra eu perco uns quilos mas é sem dieta.
Hoje me olhei no espelho e fiquei orgulhosa de mim, das minhas conquistas. Eu tenho 32 anos, caí 1000 vezes, me levantei com todo o suporte do mundo mas tô aqui.
E você?

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